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SXSW 2025 destaca o fator humano em tempos de IA

Em um mundo acelerado e tomado por telas digitais, a relação que temos com o ambiente que nos cerca pode nos causar crises física e mental. Daí a importância de se cuidar da chamada 'saúde social'. Esse foi o tema central do festival South by Southwest (SXSW), realizado na última semana em Austin, nos Estados Unidos.

E isso tem tudo a ver com o mundo dos negócios. Ao abrir as palestras do SXSW, que é considerado um dos maiores eventos de inovação do mundo, a cientista social Kasley Killam mostrou que as conexões entre tecnologia, saúde e consumo estão cada vez mais fortes.

Partindo da premissa de que a tecnologia precisa "ser redesenhada para promover relacionamentos", Killam aponta que a sociedade ainda enxerga a competência social como algo secundário. As horas que passamos checando mensagens e e-mails, ou rolando feeds do Instagram, deveriam ser transformadas, na opinião da especialista, em momentos de verdadeira conexão com amigos e familiares que mais amamos.

Killam diz que a qualidade dessas relações afeta diretamente nossos níveis de estresse, nossa imunidade e até mesmo nossa longevidade. Segundo ela, a hiperconectividade digital tem ligação com a solidão - o que não significa estar fisicamente sozinho -, podendo gerar uma sensação de desconexão, de não pertencimento e nos afetar em todos os estágios da vida.

Citando dados e estudos que fazem parte de seu best-seller, lançado no último ano, "A arte e a ciência da conexão: por que a saúde social é a chave que falta para viver mais, com mais saúde e mais feliz" (The Art and Science of Connection: Why Social Health is the Missing Key to Living Longer, Healthier, and Happier), a cientista social aponta que homens e mulheres que nutrem conexões sociais vivem até três vezes mais do que pessoas que não se relacionam presencialmente com frequência.

"Manter um contato regular com pelo menos cinco pessoas queridas, uma vez na semana, por mais de uma hora é tão saudável quanto caminhar cinco quilômetros por dia ou dormir oito horas por noite", exemplificou durante a sua apresentação.

Em uma análise sobre os tempos atuais, Killam argumenta que os sintomas de depressão, burnout e ansiedade têm implicações mais amplas do que um sentimento de desmotivação, e afetam a produtividade, as dinâmicas profissionais, sociais e econômicas.

Para além do impacto na qualidade de vida, a especialista indica que, em 2030, a indústria de saúde mental no mundo será avaliada em US$ 530 bilhões, um crescimento de 39,5% ante os US$ 380 bilhões em valor de mercado em 2020.

Traçando um paralelo com a forma como a tecnologia nos desconecta do mundo real, Killam sinaliza que hoje recorremos à IA (inteligência artificial) para substituir interações humanas, o que, além de comprometer algumas habilidades sociais no futuro, pode gerar mudanças no mercado de trabalho e uma verdadeira dissolução dos espaços tradicionais de pertencimento.

De um lado, temos a imprevisibilidade humana que é repleta de emoções, experiências subjetivas e respostas que podem surpreender. Do outro, uma IA projetada para reagir e reconhecer padrões que simulam o pensamento de um consumidor específico com seu próprio histórico e contexto.

Avançando nesse pensamento, Killam diz que, ainda que a IA continue a avançar e fazer cada vez mais parte de nossas vidas, os fatores humanos e conexões emocionais devem permanecer no centro das interações significativas.

Para Paula Englert, da consultoria Box1824, o evento trouxe reflexões importantes sobre como a compreensão de saúde social evoluiu ao longo do tempo e como ainda negligenciamos a importância das conexões humanas. Além disso, o evento reforçou a ideia de que é preciso avançar no equilíbrio entre inovação tecnológica e essência humana.

"Há um questionamento muito grande em torno da tecnologia, sobre ser aquele lugar onde tudo emerge, das coisas cool e da contracultura. Essa centralização de poder em torno da tecnologia nos chama para estudar e entender esse conceito de saúde social. E isso emenda numa outra tendência: ser mais presencial do que digital, mudando o posicionamento de como vamos viver e consumir", diz.

 

IMAGEM: Kasley Killam/divulgação