Telefone
(14) 3382-1891
Whatsapp
(14) 99899-4191

Mercado de produtos naturais e a granel cresce com foco em saúde e consumo consciente

O consumo de alimentos naturais e vendidos a granel vem ganhando força no Brasil, impulsionado pela busca por hábitos mais saudáveis, maior consciência ambiental e o desejo de economizar comprando exatamente o necessário.

E o setor vem se profissionalizando, atraindo novos públicos e expandindo sua presença em grandes centros urbanos e cidades do interior, segundo especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio.

“O mercado de produtos naturais e alimentos a granel tem apresentado crescimento consistente nos últimos anos, impulsionado por uma mudança significativa nos hábitos de consumo dos brasileiros”, afirma Jane Blandina, analista do Sebrae Nacional.

Ela destaca que o consumidor está cada vez mais atento ao impacto da alimentação na saúde e no meio ambiente, o que tem motivado escolhas mais conscientes e sustentáveis, como a redução do desperdício de embalagens (muito associada à venda a granel).

A virada de chave de uma ex-guia de turismo

Essa mudança no comportamento de consumo foi o que motivou a cearense Helena Santos, 54, a deixar o turismo para empreender. “Fiz um estudo e vi que o mercado estava crescendo. Eu mesma consumia esse tipo de produto e percebi que estava em ascensão”, conta a fundadora da Bodega Verde, em Fortaleza (CE).

Helena Santos, dona da Bodega Verde, fatura mais de R$ 500 mil por ano com suas duas unidades e tem planos de expansão (Imagem: divulgação)

 

O carro-chefe são os produtos a granel, como temperos, grãos, farinhas e suplementos. Os preços variam: de R$ 1,90 (100g de aveia ou farinha comum) até R$ 14,90 (100g de psyllium). O whey protein custa entre R$ 130 e R$ 200, e a creatina, de R$ 60 a R$ 120, dependendo da marca e do tamanho.

O negócio nasceu em setembro de 2020, durante a pandemia. Dois anos depois, com o apoio da filha e sócia, Maria Clara, Helena abriu a segunda loja. No entanto, por causa de uma obra do metrô, a primeira unidade ficou fechada por um ano até ser reinaugurada em novembro de 2024 em outro endereço.

“A obra dificultava o acesso à região, por isso decidimos fechar a loja até encontrarmos outro endereço mais atrativo para reabri-la.”

Com faturamento anual superior a R$ 500 mil, a Bodega Verde cresceu entre 13% e 16% em 2024. Para este ano, com as duas unidades operando, a expectativa é de um aumento de 20%. “Pretendemos abrir mais duas ou três lojas em Fortaleza, mas não pensamos em franquia por enquanto”, revela Helena, que também aposta no Instagram como principal canal de divulgação.

Economia, propósito e flexibilidade

De acordo com Lyana Bittencourt, CEO do Grupo Bittencourt, o crescimento do setor é impulsionado pela democratização da informação sobre saúde e bem-estar. A consciência alimentar se espalhou para além dos nichos e passou a fazer parte da rotina de um número cada vez maior de consumidores.

“Esse consumidor busca, além de saúde e sustentabilidade, frescor, rastreabilidade e uma cadeia mais direta com a origem do produto. Há também uma valorização do controle sobre o que se consome — comprar na medida certa, sem desperdício, e com mais transparência sobre o que está levando para casa”, explica Lyana.

E tem mais: hoje, o consumidor não aceita mais promessas vazias, segundo Lyana. “Ele quer verdade. Quer ver as marcas praticando o que pregam, com consistência e responsabilidade. Esse novo comportamento exige coerência de ponta a ponta — desde a origem dos insumos até a comunicação e a entrega no ponto de venda.”

Ela observa que a venda a granel atende tanto ao consumidor que deseja comprar apenas o necessário quanto àquele que busca economia ao adquirir maiores volumes com desconto. “O setor amadureceu e passou a entregar personalização e economia de forma equilibrada.”

Mercado bilionário e cada vez mais acessível

Dados da Euromonitor apontam que o mercado brasileiro de alimentos e bebidas saudáveis movimenta cerca de US$ 35 bilhões por ano, sendo o quarto maior do mundo. Já o Sebrae e a Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) estimam um crescimento de 30% nos últimos cinco anos no segmento de produtos naturais, com destaque para alimentos orgânicos, veganos, sem aditivos e integrais.

O perfil do consumidor também mudou: se antes era um público mais restrito, hoje envolve famílias, jovens e até idosos. “Gerações Y e Z estão na linha de frente. São consumidores que buscam saúde, rastreabilidade, sustentabilidade e verdade nas marcas que consomem”, explica Jane.

Como atrair e fidelizar o cliente?

Para os lojistas, estratégias como degustações, curadoria de produtos, parcerias com produtores locais, eventos sobre alimentação consciente e uma boa comunicação sobre o diferencial dos itens são fundamentais para atrair e fidelizar o consumidor, aponta Jane.

“O uso de redes sociais para contar histórias reais por trás dos produtos também tem sido um diferencial”, completa ela.

Desafios e inovações no setor

Apesar da expansão, o setor enfrenta desafios. “Logística, controle de qualidade, regulamentação e comunicação são pontos críticos, especialmente à medida que os negócios escalam”, avalia Lyana. Para Jane, a capacitação dos pequenos produtores e a concorrência com grandes redes também são entraves importantes.

Mas as inovações não param: tecnologias de rastreabilidade, embalagens ecológicas e marketplaces especializados ganham força, ao lado de modelos como lojas autônomas e soluções digitais de personalização.

Preço ainda é barreira para muitos consumidores

A acessibilidade tem aumentado, mas o preço ainda é uma barreira para alguns públicos, conta Lyana. Por isso, o papel de educar o consumidor é essencial — quando ele entende o valor nutricional, o impacto positivo no corpo e no meio ambiente, tende a ajustar suas prioridades de consumo. Isso fortalece o mercado e amplia a adoção desse tipo de produto.

Selo verde, consumo consciente e o futuro do setor

A valorização de selos e certificações como Orgânico Brasil, Fair Trade, Selo Vegano e Certificação B também vem crescendo. Uma nova legislação, a Lei nº 14.963/2024, passou a estabelecer critérios para a identificação de produtos alimentícios artesanais de origem vegetal, o que promete impulsionar ainda mais o mercado ao oferecer mais transparência ao consumidor.

“Vamos ver mais profissionalização, redes especializadas ganhando espaço e consumidores cada vez mais exigentes. Quem conseguir entregar propósito, conveniência e experiência terá um futuro promissor nesse setor”, conclui Lyana.

LEIA MAIS

Mercado proteico vai crescer para além das barrinhas e shakes

Segmento vegano cresce e atrai empreendedores

 

IMAGEM: Freepik