Um guia completo para sobreviver ao Halloween 2025
Hoje, 31 de outubro, é noite de Halloween. Tema de muitos filmes de terror e de humor, a data figura entre as mais comemoradas dos Estados Unidos e ganha corpo no Brasil, dividindo opiniões entre os que gostam e os que torcem o nariz para a tradição importada. Seja como for, é inegável que a festa é um exemplo de sincretismo religioso, mix cultural e uma comemoração muito lucrativa. O Diário do Comércio organizou o caldeirão de lendas e informações que envolvem o tema e conta a seguir tudo o que você precisa saber para curtir, criticar ou usar o modelo de negócios bem-sucedido da data para faturar no futuro. Festa sim, feriado não As comemorações do Halloween nos Estados Unidos agitam outubro inteiro e a preparação começa meses antes. No início de setembro, as lojas já estão repletas de artigos para a festa – e alguns esgotam em poucos dias. Da mesma forma, a dimensão da celebração ultrapassou há muito os limites dos pedidos de doces na vizinhança e se transformou em um evento nacional expressivo. São festas, desfiles, concursos, shows temáticos, roteiros fantasmas em cidades assombradas e uma infinidade de atividades que atraem consumidores e turistas. Tudo isso sem esquecer que a noite oficial da celebração, 31 de outubro, na verdade, não é feriado no calendário norte-americano. Assim como o dia seguinte, 1º de novembro, que obriga muita gente a trabalhar de ressaca. Este ano, porém, com o 31 de outubro caindo em uma sexta-feira, a festa promete ser maior em muitos lugares. Bilhões em jogo Os gastos no varejo norte-americano devem bater o recorde de US$ 13,1 bilhões (equivalentes a cerca de R$ 70,5 bilhões) para o Halloween 2025, segundo pesquisa da Federação Nacional do Varejo (NRF), realizada pelo instituto Prosper Insights & Analytics. O valor é 13% maior que os US$ 11,6 bilhões (R$ 62,4 bilhões) do ano passado e superou o recorde anterior de US$ 12,2 bilhões (R$ 65,6 bi) alcançado em 2023. Isso considerando apenas os segmentos de fantasias (que deve abocanhar US$ 4,3 bilhões), decorações (US$ 4,2 bilhões), doces (US$ 3,9 bilhões) e cartões comemorativos (US$ 700 milhões). O gasto por pessoa também deve ser recorde, US$ 114,45 (cerca de R$ 616,45), quase US$ 11 (R$ 59) a mais que em 2024 e superior ainda à marca de US$ 108,24 (R$ 583,10) atingida em 2023. “Mesmo com as preocupações com os aumentos de preços devido às tarifas, o Halloween continua a repercutir entre consumidores de todas as idades”, diz Katherine Cullen, vice-presidente de Insights da Indústria e do Consumidor da NRF. “Seja se fantasiando ou esculpindo uma abóbora, as pessoas planejam participar das atividades e tradições da festa.” Os números da sondagem da Federação comprovam o tamanho do apelo apontado por Cullen. Apesar de 79% dos entrevistados pelos pesquisadores acreditarem que os preços estão mais altos este ano, 73% irão às compras para comemorar a data, um percentual levemente superior ao de 2024, quando 72% planejavam curtir a celebração. No varejo, supermercados e estabelecimentos de descontos levam a melhor no quesito venda de doces. Apesar de fatores negativos, como o impacto tarifário e problemas com a queda da produção de cacau, a grande vontade de comemorar gerou lucros para quem soube ser flexível, segundo o especialista em varejo conhecido como o Guru do Supermercado, Phil Lempert. “Os supermercados estão adaptando suas estratégias”, explica. Em sua avaliação, isso se traduziu na extensão da temporada de compras com a antecipação das campanhas, oferta de grandes pacotes combinados de doces e promoções. “Essa temporada de compras prolongada se tornou uma tábua de salvação para consumidores e varejistas. Os compradores podem parcelar as compras para gerenciar seus orçamentos, enquanto os varejistas podem movimentar o estoque com mais eficiência e evitar a sobrecarga de última hora”, diz. Já quando se fala em fantasias, redes especializadas entram pesado no mercado. Em agosto, mais de 1,5 mil lojas temáticas da rede Spirit Halloween foram abertas para a temporada 2025. Todas sob o tema Madison Scare Park, uma estação de metrô mal-assombrada, com bonecos animados gigantes que interagem com o público e prometem causar experiências de susto inesquecíveis nos consumidores. Por trás das experiências, vendas volumosas. “Sabemos que cada visitante busca em nossas lojas um destino de entretenimento que traz o espírito da temporada à vida – e este ano não é diferente: revelamos nossa experiência única, inspirada no charme ousado dos metrôs subterrâneos, juntamente com a melhor seleção de fantasias, decoração e acessórios para todos os tipos de entusiastas do Halloween”, aposta Steven Silverstein, CEO da rede. Personagens por todos os lados As apostas da Spirit para esta temporada foram fantasias de personagens da série Round 6 (da Netflix), heróis da Marvel e do filme Wicked. Já de acordo com pesquisa da NRF, devem ganhar ainda a preferência dos consumidores temáticas em alta como A Família Adams e KPop, além das fantasias clássicas de bruxas e heróis em geral, princesas, vampiros, zumbis e fantasmas. Para os pets, roupas de abóbora, cachorro-quente, abelha, fantasma e super-herói estão entre as preferidas. Os personagens que tomarão as ruas na noite desta sexta-feira, porém, são apenas uma parte da celebração. Não contabilizado pela NRF, o setor de serviços e de turismo vem ganhando espaço ano após ano. Há festas espalhadas por cidades de todo o país, roteiros repletos de atividades e casas assombradas, além, é claro, dos parques temáticos da Disney e Universal, que possuem programações especiais. Cidades repletas de fantasmas Não é exagero: em muitas cidades turísticas o movimento foi intenso ao longo de todo o mês de outubro. A tradicionalíssima Salem (no estado de Massachusetts), Sleepy Hollow (estado de Nova York), New Orleans (Louisiana) e Savannah (Geórgia) estão entre as mais famosas. Mais de um milhão de visitantes se encaminham para Salem todos os anos para participar da Salem Haunted Happenings, que se autointitula a maior celebração de Halloween do mundo. São festas, desfiles, feiras, circuitos de passeios mal-assombrados a pé, museus e atrações especiais que lotam hotéis, restaurantes e lojas da cidade, que tem cerca de 44 mil moradores fixos. "Outubro em Salem é diferente de tudo no mundo. É mágico, inesquecível e cheio de pessoas que vieram aqui para celebrar à sua maneira", afirma Ashley Judge, diretora executiva da Destination Salem. "Trabalhamos o ano todo com parceiros para tornar o evento seguro, acolhedor e repleto do encantamento que faz os visitantes retornarem ano após ano. Seja pela história, pelo Halloween ou apenas pela vibe." A história é um dos pontos altos do destino. Foi lá que, entre 1692 e 1693, aconteceram os famosos Julgamentos das Bruxas de Salem, com mais de 200 pessoas acusadas de bruxaria, 30 condenações e 20 execuções. Longe da tragédia da vida real, e com a fama de “Cidade das Bruxas”, a localidade também foi palco de obras da ficção, como os filmes Abracadabra 1 e 2 (Hocus Pocus 1 e 2, 1993 e 2002), da Disney. A ficção foi o grande impulso também de um outro destino tradicional do Halloween, Sleppy Hollow, localizada no Vale Histórico do Rio Hudson (NY). A vila é o lar conto A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (The Legend of Sleppy Hollow, 1820), do escritor Washington Irving, que está enterrado no cemitério local. A agenda lotada de atividades especiais, com caminhadas por lugares assombrados, encenações, imersões, feiras e desfiles atraem mais de 325 mil pessoas todos os anos para o vilarejo que fica a menos de 50 quilômetros de Manhattan, e possui cerca de 9 mil habitantes. No entanto, as experiências assustadoras estão tão na moda que é fácil encontrar várias outras localidades fora do circuito tradicional, espalhadas por todo o país, que prometem o entretenimento do terror em festivais e construções habitadas por espíritos de outras épocas. Os primeiros registros remontam das tradições celtas, mais tarde combinadas com a cultura do Império Romano e depois ajustadas à influência da Igreja Católica. Os celtas realizavam um festival por volta do dia 1º de novembro, marcando o fim do verão e celebrando a colheita, antes da chegada do inverno rigoroso. Eles acreditavam, porém, que nessa época a barreira que separava vivos de mortos ficava mais tênue, o que poderia permitir a passagem de maus espíritos. Para afastá-los, usavam fantasias de peles de animais e acendiam fogueiras. Com a dominação pelo Império Romano, outras tradições foram incorporadas ao festival, que passou a dedicar um dia para homenagear os mortos e a deusa Pomona, guardiã das frutas e das árvores. Mais tarde, com a ascensão da Igreja Católica, foi instituído o Dia de Todos os Santos em 1º de novembro, levando o 31 de outubro a ser o All Hallows’ Eve ou Hallowe’em (termo em inglês que significa Véspera de Todos os Santos). A colonização dos Estados Unidos fez imigrantes europeus levarem essas tradições consigo, e elas foram sendo adaptadas ao longo dos séculos. As esculturas em abóboras, por exemplo, surgiram em solo norte-americano, justamente pela abundância do produto. Já a famosa brincadeira do trick-or-treating (doces ou Travessuras) tem origem no antigo hábito de pedir comida em troca de orações pelos mortos.
Diferentemente do que muita gente pensa, o Halloween não foi concebido para celebrar entidades diabólicas. Na verdade, é justamente ao contrário: a ideia dos povos antigos era afastar o mau e impedir que ele retornasse à Terra.